O homem da capa preta versus Toninho Malvadeza: a política do papo reto

Tenório Cavalcanti

Estamos no início da década de 1960 e mais uma sessão da câmara dos deputados começou, prometendo ser tão chata quanto as outras da casa.

Mas os jornais trouxeram a tona uma denúncia de corrupção no Banco do Brasil, que envolvia toda a alta cúpula da instituição.

O então deputado Tenório Cavalcanti pediu a palavra e só não chamou o presidente do banco, Clemente Mariani, de bonito. Mariani era aliado de um outro deputado muito famoso, o baiano Antônio Carlos Magalhães, o ACM.

ACM era conhecido por sua truculência no trato político. Na Bahia, ganhou o apelido de Toninho Malvadeza. Sua carreira na política é baseada no voto de cabresto, violência contra os mais fracos e subserviência aos poderosos. O coronel típico das novelas de época da Globo.

Pois bem. ACM pede a palavra e rebate as acusações sobre seu aliado. Tudo ia bem, até que um espírito sem luz o incentiva a dizer ” vossa excelência pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que vossa excelência é, mesmo, é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão.”

Tenório ficou pistola.

Acho que essa expressão nasceu nesse momento, inclusive.

Cavalcanti sacou o revólver e disse para ACM “tu morre agora”. Vários deputados fugiram do plenário mais rápido do que camelô correndo do rapa na Supervia e, alguns poucos corajosos que ficaram no local e tentaram apartar o tumulto, foram testemunhas de um dos acontecimentos mais deliciosos da política nacional: ACM, poderoso, mau feito DJ que tira Raça Negra e coloca Tiago Iorc pra tocar no meio da festa, teve uma incontinência urinária quando viu a arma apontada pra sua cabeça.

Sim, meus amigos, Tenório fez ACM se mijar, no meio do plenário da câmara.

É bem verdade que Toninho Malvadeza até tentou manter a pose. Quando os colegas conseguiram conter Tenório, ele gritou: atira, filho da puta! Mas já era meio tarde. Sua dignidade, a essa altura, era tão sólida quanto a poça de urina debaixo de seus sapatos.

Diante da cena do deputado com as calças molhadas pelo suor do medo, Tenório guardou o revólver e disse: só mato homem.

Pelo sim, pelo não, ACM ficou dias sem aparecer no congresso.

O bagulho ficou tão doido que o deputado Pedro Aleixo, vizinho de ACM, pintou seu nome em letras garrafais na porta do seu apartamento, para evitar tomar uns pipocos de Tenório Cavalcanti por engano.

Imagina isso acontecendo hoje, com internet e rede social?

Publicado por George Baptista

Historiador, editor e palpiteiro de rede social.

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora